Rua Gustavo Sampaio

um.



Mendigo
bode
bêbado
triste
vagabundo
criança
feliz.

Luz
irradia & une
no caminho
não procuro
quem procura
perde

sem caminho
não procuro
deixo luz
pro escuro.







dois.






[ Noite bruma marítima mais sólida e branca que uma parede; deito me levanto - avôo. Folhas amareladas alameda das amendoeiras
Sem Fim.]

Pedras lisas
sujas desgastadas
na penumbra meio dia
na umidade meia noite,

Pedras portuguesas
delimitando chão.

Sola solta da
sandália percurso;
vista vesga vendo alma
coração espetado
no churrasquinho de gato
fumaça que sai da brasa
de frente pro bazar,
dali santuário infantil
vindo da rua amena
sombra que faz
as amendoeiras.

Onde o galope do tempo
fez crescer minhas pernas
e o desespero; também
a desobediência e os
projetos inexistentes.

Rua ágora emotiva mais
pra pedra quadra final
direção beco do chapéu
que cruza.

Fui e voltei mil vezes
mãos dadas com minha vó
e também chutando lataria
dos carros estacionados
com amigos
tão idiotas
quanto eu.

Disparando
alarmes
madrugada
pra cima
pra baixo
inútil.

Atravesso
invisível
sonhos
intoxicados
vendo
carne
viva
ali
deitada
na
rua
pra
morte
vida
perto
dos
uivos
noturnos
numa
que
sempre
esteve
afastada
de mim.

Cabeça leve tinha
fumado mais de cinco
baseados e não falava nada,
mas sentia assustada.

Sentia falta de medo
assustado no caminho
dessa rua que é nuvem
acizentada,

e é tudo que passa
que é nada.

Eu sou sempre se desfez
entre carros estacionados
e tronco de amendoeiras!

Via troncos pelo reflexo
santo nas poças paradas
das sarjetas.

Me segui ventando
entre a Anchieta
e a Aurelino Leal,
depois o giro
direção escolinha
pública fazendo
curva voltando
pro oceano.

Não há uma só
memória,

é uma
galeria;

tira crédito
do que sou
não importa
sou o que não
se vê por ela,

rua,

mais que
a vista
diria.

O que foi
deixado no limo
entre as pedras
portuguesas,

só ali
sei estar
e espero
o vazio
inofensivo.

Um comentário:

Anônimo disse...

esperava ansiosamente seus pais acordarem de pranchinha de isopor embaixo do braço e roupãozinho rosa em cima do corpo. não podia ir sozinha. aparentemente os 13 passos - 27 dos seus pézinhos infantis - que separavam a porta de seu prédio do portão do clube eram uma distância de extremo perigo para uma mocinha de 5 anos. mas era paciente e esperava bonitinha a sua hora.
o clube ao lado de casa era seu terreno idílico. brincava com umas poucas amiguinhas de sereia na piscina, às vezes de princesa no parquinho. pedia enroladinhos de queijo no bar de madeira e até jogava tênis com uma raquetinha mignon, apropriada para seu tamanho.
um dia um miado triste fez com que perdesse o caminho da fantasia. era uma gatinha malhada de nome puff, que havia sido roubada de seus filhotes por um grupo de malfeitores mirins. a pequena manu já então tinha complexo de onipotência e tomou para si a obrigação de fazer justiça. acompanhada apenas de uma amiga, um pouco mais alta, mas um tanto menos valente - apesar do nome valentina - entrou na briga de corpo e alma. no final saiu duplamente vitoriosa. salvou os gatinhos e ganhou os melhores amigos que uma mocinha poderia ter na vida inteira.